Mariana: Ontem fui à Feira. E, diga-se, ir à Feira não é uma mera ida a um mero sítio (não!). Ir à Feira é um acto simbólico. Ir à Feira (prometo que é a última enunciação repetida) é um daqueles rituais mais do que sagrados de fechamento do ciclo, de cumprimento do sinal de infinito estilo pescadinha de rabo na boca (!) Vira e mexe, já passou um ano e tal e coiso...cá estamos nós de volta e vamos à Feira... outra vez! :D
Logo à entrada temos aquele 'entra e saí' num aglomerado de indivíduos-manga-à-cava, as crianças umas ao colo, outras nos carrinhos, já de balão Helloy(e não Hello!)Kitty amarrado ou então aos prantos porque 'eu também queroooooooooo um igual!' As mães alheadas do dramalhão dos infantes já coradinhos da praia do ATL, debruçam-se sobre as bancas dos brazucas vendedores de produtos revolucionários 'absótutámentxi fantástxicuis pára vócê qui é dona dxi cása...', isto partindo do princípio crónico (também para o zuca seller) que a visitante-tipo da Feira é dona de casa e mais, que quem 'detém' a domesticidade da casa é mulher. Prosseguindo...
Passada a fase do choque da entrada aos encontrões na dança em slide e troca passo dos dois sentidos do tráfego, chega-nos toda uma mescla de cores, cheiros e flashes visuais ao estilo Matrix. Segundo desafio apresentado: primeira paragem? Comes e bebes ou banquinhas? A hora ditou que o ratinho no estomago já estava mais para ratazana e o dilema finou-se. Ai ai que alegria...but, vai daí que question number two: o que é que se come aqui? Pergunta feita e a coisa deu-se como um desfile circense em parada. Algures o Moisés deve ter batido o cajado no chão porque abriu-se uma clareira luminosa flurescente e lá estavam eles: "O Rei do Pão com Chouriço" num gigantesco camião/balcão branco frigorífico; "A Brasileirinha Carla Simões" das Caipirinhas/oskas e derivados a mostrar a cólidade da fruta debruçada sobre o balcão de contraplacado; o neon reluzente com direito a letring e foto pixelizada do "Diogo das Farturas" - pai, mãe e casalinho de filhotes, tudo mestre fartureiro e churreiro (o conceito 'menor' neste contexto e nesta ambience não interessa abso*******lutely nada...); a cabine da Rádio (oficial) da Feira cujo altifalante berrava em loop um 'Estimados visitantes da nossa Feira, sejam bem-vindos ao recinto! Estejam atentos à nossa emissão...daqui a pouco tenho uma perguntinha para vocês...quem souber responder habilita-se a ganhar uma deliciosa caipirinha à moda da Carla Simões!"
A salada afigurava-se russa e a ratazana já ginchava. Lancei-me decidida para a fila em ziguezague anárquico do "Rei do Pão com Chouriço" enquanto tentáva a todo o custo sorver às golfadas toda aquela... riqueza multicultural! O pãozito soube a faizão (figura de estilo que nunca comi faizão, para que conste, ok?) e lá mergulhei nas ruelas das banquinhas das calças-saco, da pulseirama dos latões martelados debotosos, dos brincos e dos colares étnicos (mas feitos em série para aí made in Indonésia), dos lenços à Arafat que (como assim!?) ainda balouçam ao vento feirante... Comprei um par de argolas a pensar num mood de displicência praieira e arrumei a secção banquinhas (maisómenos) étnicas até porque, convenhamos, são assustadoramente iguais em oferta e disposição! É que viró-disque e... não toques mais esse disque obrigadinha! :P Prosseguindo...
Ao virar da esquina das etnicidades dos panos bamboleantes, abriu-se mais uma clareira desta vez ainda mais estridente, mais fluorescente, mais... à la Feira. A estridência e a fluorescência vinha toda ela da zona das diversões, o belo âmago daquilo a que a própria da Carla Simões teria designado por 'régião prá soltá à franga'. Ele era a "Corrida de Camelos", ele era o "Bingo" a valer animais gigantes de pelúcia com direito a boletim com números-bolinhas destacáveis e locutor de megafone em riste com bordões absolutamente im-pa-gá-veis, ele era isso e mais uma salva dos imprescindíveis Carroceis, Carrinhos de Choque - para sempre amantes do 'Crazy Frog' -, o Galeão e aquela Montanha Russa importada do Portugal dos Pequeninos. Um espectáculo visual de encher o olho e os timpanos...e o nariz(!) que, algures por entre dois dos 'entretenimentos' estaria, concerteza, um senhor ou senhora muito curvado/a a assar pedaços de polvo produzindo aquele aroma tão agradável a tentáculo chamuscado...
Foi aqui que se desvaneceu dentro de mim toda e qualquer vontade de trincar uma farturinha cheeinha de açucar e canela. Next time, porque haverá sempre uma próxima.